Renata Rosa em turnê pelo Reino Unido
Nesta edição de Ventana Latina entrevistamos a cantora, compositora e rabequeira brasileira Renata Rosa que durante os dias 24 de julho e 10 de agosto se apresenta em distintas cidades do Reino Unido. Na entrevista, Rosa conta sobre suas principais referências artísticas, seu processo de composição e as expectativas para a turnê.
Ventana Latina (VL): O Brasil é um país grande e com uma diversidade cultural muito particular e diversificada, mas que também está em constante diálogo com referências musicais mundiais. Quais são as principais inspirações e referências musicais no Brasil e fora dele para seu trabalho?
Renata Rosa (RR): No Brasil as minhas referências mais fortes são o coco, a ciranda, o maracatu rural, o repente de viola, cantos de trabalho da região do São Francisco e também o Catimbó e o Xangô (religiões afroindígenas brasileiras). Tanto o coco como a ciranda, o maracatu rural e o repente são tradições musicais e poéticas do nordeste, com diversas formas de composição e improviso poético. Venho há muitos anos tomando parte nestas tradições, improvisando e cantando, e elas influenciam diretamente a minha forma de compor. Cito dois músicos e compositores que me influeram e influenciam: Siba e Nilton Junior.
Sobre referências musicais mundiais, eu ouço muito o violinista e compositor suíço Paul Giger, música clássica persa (Kayhan Kalhor, Mohammad-Reza Shajarian, Marzieh), música do Mali ( Balake Sissoko), do Mediterrâneo ( Ensemble Sarban e Ensemble Aromates), música da Mauritânia ( Dimi Mint Abba), Bach, Tchaikovsky, Piazzola, Vudu do Haiti, Buena Vista… certamente muitos nome ficarão de fora.
VL: A Rabeca é um instrumento muito presente na cultura brasileira, principalmente em repertórios tidos como mais tradicionais. Pode nos contar um pouco mais sobre a presença da Rabeca na cultura brasileira e como você se interessou por ela?
RR: A Rabeca está presente não somente na música brasileira, mas em boa parte da música da América Latina e dos países latinos na Europa. Na América Latina foi introduzida pelos primeiros europeus que chegaram na época da invasão pós-colombiana, o que costumam chamar de “colonização”. A rabeca está presente em diferentes tradições brasileiras, como o Reisado, o Fandango, o Forró, o Cavalo-Marinho. Eu aprendi rabeca com um grande rabequeiro, Seu Luiz Paixão, tocando dentro da tradição do Cavalo-Marinho, em Pernambuco. Desde que a ouvi pela primeira vez fiquei encantada pelo seu som mais rouco, mais rítmico, profundamente enraizado nas nossas tradições e com um perfume de outros tempos, de outras civilizações que a trouxeram.
VL: Você em seu repertório mistura canções populares com letras de compositores mais contemporâneos. Como se dá a escolha do seu repertório? Ademais de possuir um repertório de altíssima qualidade, seu trabalho é reconhecido pelo trabalho com arranjos inovadores, valorizando os músicos membros da banda. Como funciona para você esse equilíbrio entre a escolha da canção e a composição dos arranjos?
RR: No meu repertório em sua maioria há canções compostas por mim, há adaptações de músicas tradicionais, há parcerias minhas com outros compositores. Há 2 músicas que são de outros compositores.
Normalmente eu parto de um processo de composição, mais do que de escolha de repertório. Mesmo as músicas tradicionais com as quais trabalho tem, em sua maioria, partes também compostas por mim – letras ou outros trechos melódicos.
Em geral eu canto muito uma música para que me venham as imagens, o espírito da música, para saber qual o caminho de arranjo ela me pede. Então começo a desenvolver uma idéia de arranjo seminal. E nesse momento inicio o processo de ensaios, dando indicações para os músicos dentro de um processo de criação colaborativo de arranjos.
VL: Você fará uma turnê bastante longa no Reino Unido no próximo mês, quais são as suas expectativas para ela?
RR: Sim! Estamos super felizes com a nossa turnê no Reino Unido!
Em 15 anos de turnês pela Europa será a nossa primeira turnê no Reino Unido!
Na verdade, estamos bastante curiosos sobre como será a receptividade do público britânico com a nossa música. Sei que a minha música não é uma música que se relaciona muito com as vertentes mais conhecidas da música brasileira, mas a música brasileira é muito rica e diversa.
Vamos levar a nossa polifonia própria, nossas violas cristalinas de cordas duplas, percussão ritual e festiva num trabalho bastante autoral.
Sei também que o Reino Unido tem muita música com violinos tradicionais, estou curiosa em conhecer mais.
Queremos levar a nossa música um maior número de pessoas possíveis.
Não vemos a hora!